UM BOATO, UM CORAÇÃO PARTIDO E EIS A REPÚBLICA

Artigo desenvolvido baseado em pesquisa da minha filha Maria Eduarda

Como dizia o pensador Edmund Burker, aqueles que não conhecem a história estão fadados a repeti-la, e aí acrescento, principalmente nos erros.

Nosso país parece que nunca deu qualquer importância a nossa história e fatos marcantes que são definidos como feriados nacionais passam ao largo do entendimento da grande parte dos brasileiros, inclusive as escolas parecem querer não lembra-los, não aguçando aos alunos o interesse pelo tema, em pesquisas, histórias ou qualquer atividade que possam criar o sentimento de pertencimento de uma nação.

Nossa história é curta, seis séculos incompletos, muito pequena comparada aos mil anos de Roma, ou o mesmo tempo do primeiro império alemão, ou ainda, nossa ausência na Idade Média. Isso não nos torna menos importante, pelo contrário, somos a chave mestra para o início da derrocada de Napoleão quando o Príncipe regente português mudou sua Corte para o Brasil.

Com essa decisão e seu modo de conduzir a política portuguesa, entrou para sempre na história do despótico Imperador Corso que iniciou a última etapa da Revolução Francesa. Em suas memórias, o General que queria ser César escreveu que admirava três pessoas: o “general do inverso russo”, o General Wellington que o venceu na Batalha de Waterloo* e o Príncipe Regente Português que o enganou na sua polida política de adiar sua decisão de apoio à França. Daí ter surgido à expressão “ficar a ver navios”, pois quando as tropas francesas invadiram Portugal só viram a frota inglesa longe conduzindo Dom João.

Não é desconhecido que a cada ano parece que mais fatos relevantes são trazidos à tona sobre nossa história pátria, parece que vários véus são descortinados e fatos importantes e pitorescos são trazidos ao conhecimento de todos.

Em minha profissão na área contábil só com pesquisas mais recentes conhecemos nossa evolução com a chegada da Família Real, quando em 28/06/1808 foi promulgado o Alvará com força de lei que “Crêa o Erário Regio e o Conselho de Fazenda” com ordenamento de normas similares às mais atualizadas do velho continente:

“TITULO II

DO METHODO DA ESCRIPTURAÇÃO E CONTABILIDADE DO ERARIO

I. Para, que o methodo de escripturução, e formulas de contabilidade da minha Real Fazenda não tique arbitrario, e sujeito á maneira de pensar de cada um dos Contadores Geraes, que sou servido crear para o referido Erario: ordeno que a escripturação seja a mercantil por partidas dobradas, por ser a unica seguida pelas Nações mais civilisadas, assim pela sua brevidade para o maneio de grandes sommas, como por ser a mais clara, e a que menos logar dá a erros e subterfugios, onde se esconda a malicia e a fraude dos prevaricadores.”

Voltando a data cívica da Proclamação da República, nunca tivemos um ensino aprofundado dos fatos, misturava-se a causa abolicionista com a República, algo que sempre me intrigou porque aquela foi instaurada ainda no Regime do Império.

Não querendo me aprofundar em trazer a baila causas mais significativas que deram alicerce ao movimento de instauração da República, orientei a minha filha de 9 anos, cursando o 4º ano do ensino Fundamental, a fazer uma pesquisa e um resumo sobre tão importante fato histórico, uma vez que as escolas parecem “virar às costas” para integrar os brasileiros às suas origens, de os fazer entender o presente com fatos do passado e assim melhor decidir seu futuro.

A seguir segue o pequeno resumo da minha filha, que traz fatos nunca nos ensinados nos bancos escolares no tempo que não tínhamos a internet para pesquisar. O trabalho em si contou com minha ajuda para organizar o material e melhorar um pouco a linguagem, mas o mérito da busca, do conhecimento, pertence a ela. Eis seu texto:

“A Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, terminando com a escravidão no Brasil em 13 de maio de 1888. Ela assinou como Princesa Regente porque seu pai, D. Pedro II, tinha ido viajar para o exterior.

Os fazendeiros, principais proprietários de escravos, não gostaram da atitude da Princesa Isabel, porque perderam a mão-de-obra de graça e se juntaram aos militares que desejavam a proclamação da República.

A insatisfação dos militares aumentou devido ao projeto de lei que não trazia benefícios aos mesmos, com punição a oficiais que se manifestaram na imprensa contra o governo e receberam o apoio de Marechal Deodoro, Presidente nomeado para a Província do Rio Grande do Sul.

Em julho de 1889 D. Pedro II nomeia o Visconde de Ouro Preto para chefia do Conselho de Ministros, que tomou diversas medidas para tentar controlar a área militar, o que ocasionou mais problemas para o governo.

O centro de ideias republicanas dos militares era o Clube Militar, chefiado pelo Tenente Coronel Benjamim Constant, que com o apoio de Deodoro realizaram um movimento para derrubar o Visconde de Ouro Preto. Tal movimento foi iniciado com os boatos do Major Sólon de Sampaio Ribeiro no dia 14 de novembro de 1889, que o governo tinha emitido ordem para prender Deodoro e Benjamim.

Marechal Deodoro tinha intensão de propor um novo Ministério, mas mantendo a Monarquia, pois era amigo pessoal do Imperador.

No entanto, os rumores que Gaspar Silveira Martins seria convidado para organizar o novo ministério foi a gota d’água para Deodoro, pois era seu desafeto – os dois tinham disputado o amor da mesma mulher na juventude, e viraram rivais para o resto da vida. O fato é que isso levou Deodoro, que até então não via o Brasil sem a Monarquia, a derrubar Pedro II e instituir um Governo Provisório.

Na noite de 15 de novembro de 1889 o novo Ministério estava formado e o primeiro Decreto Republicano foi assinado com a proclamação provisória da República Federativa, onde no artigo sétimo dizia que a forma definitiva de governo seria após o pronunciamento da nação. Esta votação só foi realizada 104 anos depois, em 1993.

Na tarde do próprio dia 15 de novembro D. Pedro foi formalmente avisado pelo Major Sólon Ribeiro que todo o ministério chefiado pelo Visconde de Ouro Preto tinha sido destituído e que a República substituiria a Monarquia e ainda, dando um prazo de 24 horas para toda a Família Real deixar o país.

D. Pedro II de forma pacífica para evitar derramamento de sangue brasileiro vai para a Europa. Parte na madrugada para evitar qualquer tipo de manifestação popular que venha causar algum conflito. A Imperatriz Teresa Cristina faleceu um mês após a proclamação da República e o Imperador faleceu em 1891.

Embora tenham falecido na Europa, seus restos mortais estão sepultados na Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis.”

Não objetivo de forma alguma ensinar história aqui, objetivo sim mostrar a importância de estudar, de conhecer a história correta do seu país, entender os fatos para emitir opiniões baseadas no conhecimento e não no achismo e/ou na manipulação de “verdades” que tentam impor à sociedade, principalmente aos jovens.

Minha mais importante missão é fazer minha filha Maria Eduarda ser uma cidadã correta, uma brasileira que ame seu país, que lute por ele, que tenha conhecimento real de sua história, não se deixe manipular e que tenha sempre em suas ações e oratória a defesa da liberdade de nosso Brasil, pois um cidadão se forma na sua infância.

*O General Wellington tinha por regra batizar os combates que participava com o nome do lugar onde ele tinha dormido na noite anterior e desta vez seu pernoite ocorreu em uma vila conhecida como Waterloo, a poucos quilômetros do campo da batalha derradeira.

Carlos Eduardo Ribeiro: Escritor e Contador. Mestre em Ciências Contábeis pela UERJ, Professor da Universidade Federal Fluminense, Diretor Financeiro do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Baixada Fluminense. Co-autor dos livros:

  • Entendendo o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público;
  • Entendendo a Contabilidade Orçamentária Aplicada ao Setor Público;
  • Entendendo as Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público;
  • Finanças Públicas em Tempos de COVID-19;
  • O Que Você Queria Saber Sobre Créditos Adicionais e Não Te Contaram.  Perguntas e Respostas.


12 comentários sobre “UM BOATO, UM CORAÇÃO PARTIDO E EIS A REPÚBLICA

  1. Parabéns meu Amigo de Arma.
    As palavras foram muito postas nessa prévia, principalmente “Não objetivo de forma alguma ensinar história aqui, objetivo sim mostrar a importância de estudar, de conhecer a história”.
    correta do seu país”. Se interar da História faz parte crucial do verdadeiro Ensino.

    Forte Abraço

    Marco Sobrinho – Marquinho do Sindicato

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  2. Parabéns Professor, Parabéns Duda!! Excelente texto, ótimo trabalho de pesquisa … embora o Brasil não tenha sido descoberto a tempo de viver a Idade Média, período de grandes acontecimentos na Europa, nosso País passou por vários momentos históricos, que mereciam ser lembrados, e, principalmente, estudados… Viva a República!!!

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  3. Excelente artigo! Amei!

    Há uma anticultura no Brasil que leva os alunos a não conhecerem verdadeiramente nosso país, que até hoje é retratado nos livros de História como “descoberto”, quando sabemos que esse termo é totalmente inadequado.
    Dessa anticultura é que surge a não cidadania, cada vez mais presente em nossa Nação.

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  4. Muito bom texto! Claro, sucinto e de muito conteúdo. Parabéns à competente pesquisadora Maria Eduarda, seu excelente trabalho de investigação culminou no artigo esclarecedor!

    Παμε, παμε! Πολυ καλα! (“Pame, pame! Poli kala”! “Sigam em frente! Muito bem”!)

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  5. Parabéns, excelente texto! Interessante a participação especial. Gostei muito, já repassei para meus filhos 13 e 9 anos. Um forte abraço! Que DEUS te abençoe!

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  6. Muito bom !
    O conhecimento é a única riqueza que quando é dividida, automaticamente se multipica.
    Parabém pelo trabalho de investigação e pelas informações esclarecedoras Maria Eduarda.

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    1. Parabéns amigo e professor, Carlos Eduardo.
      É muito bom saber que nossos filhos conhecem a história do nosso país. Dessa forma, formaremos cidadãos capazes de mudar o rumo da nação.
      Parabéns, Maria Eduarda.
      Vamos em frente !!

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  7. Parabéns a Maria Eduarda pela pesquisa e ao Carlos Eduardo pelo incentivo à pesquisa. O texto é interessante para leitra e reflexão em qualquer época.Divulgar nossa história e incentivar o seu conhecimento é merecedor de nosso apoio.

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  8. Parabéns, Maria Eduarda, e meu amigo Carlos Eduardo.
    Uma pesquisa rica em detalhes, e um incentivo enorme para nossos filhos. Que grande contribuição para o desenvolvimento de todos nós. 👏👏💯

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